A correria e o estresse do dia a dia fazem, muitas vezes,
com que os pais não consigam dedicar o tempo que gostariam aos filhos. Mas, ao
invés de muitos investirem no tempo com qualidade compensam a ausência com
presentes ou fazendo todas as vontades de seus filhos. O resultado não são
apenas crianças mimadas, mas, adolescentes que não sabem lidar com a frustração
e os limites. Essa é a constatação do educador Leopoldo Vieira, que é mestre em
educação especial pela Boston University, especialista em Psicomotricidade
Relacional e diretor do CIAR – Centro Internacional de Análise Relacional.
“Hoje, é como se as crianças não pudessem mais receber limites, elas crescem
sem saber ouvir um ‘não’. Os pais não sabem o que fazer e a criança fica
perdida. Quando chega na adolescência ou fase adulta podem ter vários problemas
por não saber lidar com as frustrações”, avalia.
Cada vez mais utilizada nas escolas, a psicomotricidade
relacional é uma técnica que ajuda a criança e o adolescente a lidar com o
limite e a socializar-se. O método utiliza jogos espontâneos, preferencialmente,
em grupo, respeitando a faixa etária dos participantes, em que há a
possibilidade de perceber as características, necessidades e desejos de cada
um. Um detalhe chama atenção: os participantes não falam durante as sessões,
apenas se manifestam pelas ações e gestos. “A criança é inserida em um grupo
social em que precisa lidar com trocas, receber e dar, aprender a lutar pelo
que quer, a esperar, a se afirmar diante do outro, mas também respeitar o seu
espaço. Ali, se sente livre para ousar, errar e acertar, expressar seu lado
bom, mas também o lado mal, sem se sentir culpada”, aponta o educador.
Leopoldo Vieira explica que o diferencial do método é
observar o que não é dito pela criança, deixando-a livre para se expressar e
proporcionando mais autonomia. “Por exemplo: uma criança que faz muita birra
pode ser porque não aceita os limites, ou é um pedido de ajuda, uma situação
mal resolvida”, avalia.
Vieira esclarece que a psicomotricidade relacional ajudará
para que ela se expresse como de fato se sente. “O psicomotricista ajudará a
criança a perceber todos esses sentimentos para que ela encontre uma forma
sadia de construir a sua personalidade”, afirma. Entretanto, antes de tudo, é
preciso que os pais tenham bastante consciência de sua relação com o filho. “Os
pais precisam se auto-analisar para não compensar os filhos de suas próprias
frustrações e desejos, e não projetar neles tudo aquilo que não puderam viver
adequadamente”, salienta.
O especialista considera ainda que os pais não devam
justificar todos os comportamentos errados da criança como algo que faz parte
da idade.
“Uma mudança de comportamentos pode fazer parte de
determinada faixa etária ou não. Por isso, é preciso cuidar com esses
comportamentos desde cedo, pois todas as dificuldades emocionais e afetivas só
acabarão surgindo quando ela começar a ser alfabetizada”, ressalta.
Fonte: http://canalconselhotutelar.wordpress.com/