Exame será aplicado em 4 e 5 de dezembro nas unidades
prisionais.
Internos buscam certificação do ensino médio e vaga na
faculdade.
Um grupo de 488 adolescentes que cumpre medidas
socioeducativas em 93 unidades da Fundação Casa, em São Paulo, está inscrito
para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos dias 4 e 5 de dezembro. É o
maior número dos últimos três anos. No ano passado, 105 jovens fizeram as
provas.
O aumento, segundo a gerente escolar Neuza Flores, se deve
ao fato de que nesta edição muitos internos farão as provas para conseguir a
certificação do ensino médio, além dos que vão disputar vaga em universidades
ou usar o exame para solicitar bolsa do Programa Universidade para Todos
(Prouni). O Enem será aplicado por equipes do Ministério da Educação nos
próprios centros de medidas socioeducativas e nas unidades prisionais.
As unidades da Fundação Casa abrigam atualmente cerca de
6.300 jovens infratores. A maioria tem entre 16 e 17 anos, e apesar de já ter
idade suficiente para cursar o ensino médio, está entre o 6º e o 9º ano do
ensino fundamental. Os jovens chegam às unidades com defasagem no ensino muitas
vezes porque abandonaram a escola e retomam os estudos durante a internação, já
que a atividade é obrigatória. Grande parte é alfabetizada neste período.
Foco no Enem
Na Novo Tempo, unidade da Fundação Casa em Franco da Rocha,
Região Metropolitana de São Paulo, há um trabalho específico para o Enem. Os
oitos meninos que farão as provas têm um reforço de duas horas e meia por dia
com simulados e exercícios específicos há quatro meses. É o momento para eles
tirarem as dúvidas da disciplina que mais os aflige: matemática.
“Número é difícil de decorar. Nunca repeti de ano, mas dá
medo de não conseguir lembrar tudo na hora da prova. Estou me dedicando, tenho
força de vontade, cometi um ato infracional, mas quero mudar minha vida”, diz o
jovem de 17 anos que quer estudar engenharia de petróleo.
Interno da Fundação durante aula preparatória para o Enem
Os cursos de enfermagem, mecânica, publicidade e direito
estão entre os sonhos dos jovens da unidade de Franco da Rocha que farão o Enem
e pretendem cursar uma faculdade. Eles dizem apostar na educação para conseguir
conquistar sonhos e reescrever a história de suas vidas.
“O Enem abre portas, e se eu me arrisquei por uma algo ruim,
também tenho de me arriscar para conseguir algo bom. Tenho vontade de vencer”,
afirma o garoto de 18 anos que pretende seguir carreira em publicidade.
Os jovens não revelam qual foi o ato infracional que os
tirou a liberdade. Quando questionados dizem que preferem não contar porque o
crime faz parte do passado, estão arrependidos e agora pagam sua dívida com a
sociedade.
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